Casamento por um fio I
A noite, passou-a sozinha. Ele tinha saído para jantar com amigos e não anunciou a hora de chegada. Não telefonou. Esperou por notícias antes de adormecer mas fechou os olhos sem saber nada de novo. Ligou, mas ninguém do outro lado da linha. Não era a primeira vez que ele lhe fazia isto.
O sono foi aos solavancos, assim de minutos em minutos, acordando com o mais pequeno som na escada do prédio naquela rua sossegada de Cascais. Não tinha relógio mas nem era preciso. Sabia que o tempo passava sem que a porta se abrisse e houvesse um outro corpo na cama. Nunca tinha desconfiado dele. Nunca. Achava que o amor que nutria por ela era só um, único, sem ser partilhado nem reclamado por mais ninguém. Mas a angústia de dormir sozinha...
A manhã estava a querer entrar mais cedo e voltou a abrir os olhos. Era ainda ténue a luz que via da janela pequena do quarto. Preocupou-se. Preocupava-se sempre. Carregou nas teclas que lhe davam o nome dele e ouviu a chamada seguir. Não soube para onde. Lá longe um atender sem voz. Estou? Estou? Nada. Ouviu que falavam, não com ela, mas falavam. Deixou-se estar naquele silêncio de uma cama meio-vazia e esperou. Era ele. Do outro lado, era ele. Apurou o ouvido para entender o que estava passar-se. Estaria no bolso o telefone. Sim, no bolso dos jeans onde sempre levava aquele Nokia último modelo. Uma voz feminina fez-se entender através da ganga. Quis perceber o que dizia mas nem sempre as telcomunicações servem para bons entendedores. E ela não era, definitivamente, uma boa entendedora. Precisava mais do que meia palavra.
Gritou o nome dele como se se pudesse fazer ouvir. Uma e outra vez. O telefone foi desligado. Não parecia ter sido um acaso.
Às sete da manhã ouviu a porta bater. Um cheiro forte a tabaco entrou no quarto e, com ele, o homem que um dia a tinha esperado junto ao altar. Estás tão bonita, tinha-lhe dito. Hoje isso não importava. Acendeu a luz como se naquele quarto não houvesse outra mulher. Tirou a roupa e preparou-se para um banho. Ela abriu os olhos e perguntou-lhe porquê. Ias refilar, respondeu. Despido seguiu para a água quente que corria tanto como a manhã. E saiu para trabalhar.
Nesse dia, ela não dormiu.
3 comentários:
Caríssimas, estão convidadas em:
http://cadernodecorda.blogspot.com/2008/03/29-de-maro-18-horas-apresentao-do.html
Beijinhos
Credo! Coisa tão triste! Espero que não seja verdade!
Beijinho grande!
Como conheço essa sensação.... e no meu caso foi verdade...
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