Avózinha II
Come devarinho, sem faca, enquanto beberica o sumo de pêssego. Estamos a almoçar quase às três da tarde porque, pasme-se, saímos da cama às duas e meia! A avózinha terá ido à casa-de-banho umas 15 vezes, durante a noite. É um ritual: acende a luz, vai, devagarinho, está, regressa, devagarinho, deita-se, apaga a luz. Uma e outra vez. Não irá lá fazer nada, suponho, talvez seja um vício, talvez o faça a dormir, não sei. Mas que o faz, faz. E eu acordo todas as vezes, deitada no outro lado da cama, medindo-lhe os passos com medo que tropece numa casa que não conhece todos os dias. De manhã, eu ensonada, pergunto-lhe se quer sair da cama. Diz-me que ainda não. Aproveito para recuperar da noite mal dormida e fico. Diz-me várias vezes 'Eu não sou que coma', mas componho-lhe o prato e faço orelhas moucas. Acaba por comer e pergunta-me se pode voltar para a cama. Dói-lhe a cabeça (pudera!). Deixo-a ir. O sumo de pêssego, bebeu-o até ao fim. Pede-me comprimidos de minuto a minuto. Digo-lhe que já os tomou. Volta a perguntar. Incrédula, confia na minha palavra. Tem dúvidas, esquece-se. Não é uma doença. É apenas idade: a avózinha faz 93 anos no mês que vem.
4 comentários:
muitos beijinhos
que bom!:)
É tão bom cuidar deles não é? Que saudade... Um beijo cheio de respeito pois avós existem muitas netas assim é que...
SR
Mtos beijinhos para as duas. :) É enternecedora a forma como falas da tua avó. As minhas "foram" cedo demais. Lembro-as com mto carinho e saudade.
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