Ainda o ontem
Não sei bem como dizer isto: ainda não ultrapassei o pior episódio da minha vida. Recordo-o a cada dia que passa e recuso, interiormente - nem sei bem - ultrapassá-lo. Quero, racionalmente; não me deixo, emocionalmente. À memória vêm os bons dias de outrora, os sorrisos e as palavras, as gargalhadas e a aventura. Esqueço-me do resto, do que me fez parar, do que me fez pedir que parasse, do que me entristeceu. Dizem-me para pôr um ponto final, tomar medidas, avançar. Faço-o sem conseguir pôr um ponto final, tomando medidas insuficientes, sem avançar. Estou contra mim, e sei quem é o meu adversário: eu própria. A situação é tão preocupante quanto ridícula e pode acabar mal. Há mais pessoas a serem prejudicadas. Talvez não saibam como, mas estão a sofrer ainda com o meu ainda sofrimento. Se não é de dia, é de noite. Lá está sempre o nome, o momento, a partilha, os dias que um dia aconteceram, a parte da minha vida que passou. Sinto que nada há a fazer. Parece-me que arrastarei para sempre estas recordações, esta responsabilidade quase maternal, esta suave dor que, devagarinho, arrasa. Rezo para que assim não seja. Mas outra pessoa, que sou eu, torna-se agnóstica. Fica o lamento de não saber ser uma, quando ser duas me faz recuar, quando a da frente não puxa a de trás, mas a de trás impede a outra de andar. Assim sou. Assim estou.
2 comentários:
Não vou dizer: "sei o que estás a passar", porque não sei. Também não vou dar nenhum conselho cheio de boas intenções, mas que não vai servir para nada.
A única coisa que vou fazer é rezar para que o amanhã seja melhor.
Um abraço
Obrigada rosa negra. Que seja melhor para todas...
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