Acordo Ortográfico
Estou ainda fresca para falar deste assunto. Sou contra, completamente contra, o acordo ortográfico. A S., que vive no Rio há 3 anos, decidiu tirar lá um curso de Jornalismo. Na Faculdade, foi aplaudida pelos professores e um exemplo para os colegas por 'falar tão bem português'. Pediam-lhe que repetisse palavras, que pronunciasse frases, que deixasse os sons de sotaque português de Portugal fluir. Mas, pelos vistos, não chega! Bem sei que eles são muitos mais. Bem sei que, só o Rio, o Estado do Rio, tem mais habitantes que Portugal inteiro, mas, ainda assim... Nós teremos de alterar cerca de 5 por cento da nossa escrita. Para eles, nem chega a meio por cento. Porquê? Porque os brasileiros têm mais dificuldades? Porque, na geral, são mais iletrados? Não me parece! Eu gosto de escrever baptismo com p, acção com dois c. Gosto. Eu gosto de uma escrita que não é óbvia, que não se ouve, que se sabe para além do que se diz. Eu gosto. Mas não. Já aí estão os dicionários, os apêndices, as ajudas para saber, daqui a 6 anos, escrever uniformemente. Bolas. Terei de adaptar-me. Mas sou contra. Imaginem as crianças que agora aprendem a escrever. Vão ter erro se escreverem ótimo. Mas, temos de ensinar-lhes, daqui a meia dúzia de anos terão erro se escreverem óptimo. Coitadas. Que confusão. Para quem a escrita faz parte da vida isto é muito importante. Se eu fosse revisora de um jornal fazia-me de esquecida e deixava passar as letras que não se ouvem. Os mudos também não falam e comunicam. Fazem-se ouvir. Assim são as letras silenciosas...
P.S. A RTP fez uma peça miserável sobre este assunto. A jornalista fez de conta que estava numa aula de português e ia tirando dúvidas de português. Péssima. Vi no avião. Porque é que deixaram de ter as notícias da SIC, na TAP?
4 comentários:
Sou de tradutora de formação, profissão e vocação e compartilho contigo esta reacção. Disseste tão bem: gosto do que não é óbvio, adoro as consoantes mudas, adoro os nossos hífens devido às apassivantes "regozijar-se-ão" em vem do "se regozijarão". Ainda não formei opinião acerca do novo acordo, tenho de me informar melhor, mas parece-me que não vou gostar tanto, será mais um desacordo do que acordo. Quando estive no Brasil, ajudei a desmistificar aquela ideia que eles tinham de não compreenderem os portugueses. Eu dava aulas de Inglês numa escola da Tijuca e quando eu abria a boca, todos diziam: "Nossa, como você fala bonito! Entendo tudinho o que você diz" Eu respondia: Temos a mesma língua, meus caros.
Acabei de ler este post há cerca de 5min e ainda estou em estado de choque... Como é que é possível fazerem tais alterações? Por o país estar a ficar cada vez mais burro em certas coisas ? (É muito triste ver erros ortográficos em publicidade, por exemplo) Tenho noção de que entre a maior parte das pessoas da minha idade que conheço, sou das poucas que ainda se preocupa com a ortografia, que ainda corrige namorado e amigos quando escrevem mal alguma palavra, que se esforça ao máximo por não se deixar influenciar pela internet e afins, que se assusta por, por vezes, ter dúvidas na ortografia duma palavra.
Estou em estado de choque.
Já agora, podes indicar-me algum site onde me possa informar mais sobre o assunto? (até agora não encontrei nada)
E parabéns pelo blog =)
Não conheço nenhum site, boo... mas a Texto Editores editou os novos dicionários e há uma coisa que se chama Atual (assim, sem c) com as mudanças mais prementes. E isto só deverá entrar em vigor daqui a 6 anos...
Não conheço as consequências do acordo ao pormenor, mas a simplificação da língua escrita não me choca. Aliás, é um processo mais do que natural. Basta ver textos em português ao longo do século, para perceber a evolução, a simplificação. Estando no séc. XXI, faz todo o sentido. Vai ser complicado adaptar-me? De certeza, mas com 6 anos de transição, em que ambas as formas serão aceites, tudo bem. É tempo mais do que suficiente.
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