Na Lua
Vêm-me à memória demasiadas coisas. O passado anda por cá a espreitar, como se não fosse nada. Deixando marcas no dia mas, sobretudo, na noite. Aparece-me em sonhos como se o tivesse visto ontem, faço comparações enquanto durmo, não fecho os olhos sem uma recordação. Enumero o bom e o mau e pergunto-me porquê. São pensamentos que vão e vêm, assim numa espécie de alívio e de incompreensão. Como se o presente não chegasse. Quando chega. A vida hoje parece diferente de há uns anos. Há cinco tudo me parecia negro. Agora há apenas uma nuvem, uma neblina que passa, uma neblina do passado para citar o livro que ando a ler. Disseram-me que estava velho e já com muitos cabelos brancos. Não consigo imaginar nada de mau. Uma figura alienada, fora de si, sempre na lua e sem ninguém a prestar contas. E imagino-me também numa certa lua, aluada, esquecida do que realmente importa quando somos dois. Não é saudade, não é paixão, não... apenas um amor quase maternal, uma vontade de corrigir tudo com caneta a vermelho. Vês o que esteve mal? Isto não se faz, isto também não, e isto, nem pensar. E depois um sorriso de perdão que é também de tréguas. Não me interpretem mal: não é o presente que não me satisfaz, apenas o passado que ainda dorme comigo. E três na mesma cama é demais.
2 comentários:
se é!
é tão mais comum do que parece...
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