quinta-feira, fevereiro 23, 2006

Memórias

Algures entre a Mitrena e Setúbal, com o rio a correr para a foz do meu lado esquerdo, com a vista de Tróia mais ao fundo, abri a caixinha verde alface. Fui buscar recordações felizes de um dia de Primavera. Um almoço na Comporta. Jornais e confidências partilhadas. Houve lágrimas, não minhas, que não pude secar. Caminhei pela areia molhada durante muito tempo, respeitando um espaço que não me era pedido, mas que concedi de bom grado. Voltei, lágrimas já secas, recebida por um abraço sincero, que valeu mais do que qualquer palavra dita antes e depois. O rio corria do meu lado esquerdo… e antes do porto de Setúbal a tampa da caixinha verde alface fechou-se de rompante. Fez um estardalhaço enorme. Embateu nas prateleiras dispostas ao longo da pálpebra esquerda e fez saltar outras memórias. Percebi como duas pessoas podem ser tão diferentes. Logo nós que nos achamos tão iguais. O rio não parou de correr, mas o sangue gelou-me nas veias. Compreendi pela primeira vez que nunca poderei contar contigo. Procuraste a saída mais próxima ao primeiro alarme. Enquanto eu, nesse dia longínquo, tenho a impressão que passaram anos, fiquei por ali à espera de poder regressar. Ainda nem tínhamos ligado o 112 e já tu abandonavas o prédio. Depois da derrocada olhei em volta e percebi que estava sozinha. Como agora.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que "posta" bonita, mas aliás quase todas as postas da Carrie são não desfazendo as outras meninas claro está, gosto mesmo é do vosso blog. Mas Carrie como diz alguém que eu conheço "O caminho no qual me perdi levou-me a outro com o qual nunca sonhei" e o rio continua a correr a teu lado, e o sangue vai fervilhar sempre nas tuas veias...sozinha???!! Ou não!!

Carrie disse...

Cris, benvinda.
"O caminho no qual me perdi levou-me a outro com o qual nunca sonhei". Gostei e parece-me um bom lema de vida. O 'sozinha' é mais figurativo que outra coisa ;)