O 'meu' Rio de Janeiro
O Rio é calor afrodisíaco. Praia, caipirinhas e cerveja, tudo para vencer as temperaturas dos termómetro. Uma varanda no bairro da Lapa. Prédios com 200 anos de história a pedirem mais uma oportunidade. Festas na praia. É fazer o calçadão às 3h00 de sandálias na mão. São homens suados a bater bola na praia iluminada por candeeiros. Homens a baterem punhetas atrás de quiosques. Mulheres da vida, ou à procura dela. A mulher de negro, quase em trajes menores, a ler à luz de um candeeiro junto à praia. Sanduíches de frango com abacaxi comidas ao balcão peganhento do Cervantes. Restaurantes em antiquários, três andares de velharias, muitas, lindas. É entrar no Copacabana Palace às cinco da manhã. Gente a dormir na rua. Meninos deitados em caixotes. Mulheres tapadas por finos panos de algodão. Conversas sem sentido, sentidas. É o negro colossal e retinto da praia de Ipanema. Um índio de olhos doces e mãos ligeiras a trabalhar couro. É fazer virar cabeças dentro do meu vestido branco. Ter a certeza que não perdi o jeito. Ouvir Vinicius no Canecão. Tristeza não tem fim, felicidade sim. É dizer tudo para exorcizar fantasmas. Porque a dor do amor que teve fim/ Que foi ruim, sei que sim / Outro amor há de apagar. Voltar atrás quando se quer seguir em frente. Apostar uma noite na Pousada de Belmonte com a certeza que vou ganhar. O medo de olhar nos olhos. Ah, não tente explicar/Nem se desculpar/Nem tente esconder/Se vem do coração/Não tem jeito, não/Deixa acontecer. É ver o dia amanhecer na praia da janela do quarto do hotel. São seis pessoas num táxi para quatro. Corpos esmagados, pernas entrelaçadas. São muros cobertos de grafitti. A homenagem à garota de Ipanema, em versão deusa da fertilidade, no Arpoador. Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça, é ela, menina, que vem e que passa. É o barulho do mar. Viagens de elevador. Alucinações conjuntas. A rua de Vinicus em Ipanema, a fazer lembrar a West Broadway. São borboletas. Das que se fumam e das que voam no estômago. Olhares cúmplices. Conversas a meia voz. Samba. Mulatas esculturais e louras oxigenadas. É o fotógrafo da cidade do samba. Árvores frondosas de troncos rasteiros. Bordéis nas esplanadas de Copacabana. Paredes de tijolo e janelas de plástico. São casas simples, com cadeiras na calçada/E na fachada escrito em cima que é um lar/Pela varanda, flores tristes e baldias/Como a alegria que não tem onde encostar. A art déco do Corcovado. O cemitério de S. João Batista ao centro da fotografia. Este é o meu Rio, sugiro que encontrem o vosso.
[Citações de Vinicius de Moraes]
3 comentários:
Parabéns, xuxu (apaguei o comentário anterior, porque, idiota, escrevi o teu nome e esqueci-me que isto é um blog anónimo, minha querida esquizofrénica), está muito bom.
E o Brasil faz mesmo bem. Eu bem insisti que me levasses na Samsonite.
As palavras parecem sempre poucas, curtas, redutoras para tanta emoção, sentimento, vibração, mas são a única coisa que nos resta.
Vibrar com as palavras enquanto recordamos imagens, paisagens, rostos, olhares, expressões, palavras ditas, sentimentos difíceis e doces é vibrar com a vida que não é esquecida, mas fica perdida algures cá dentro, à espera de uma saída.
O Brasil veio numa qualquer "Samsonite", acordou com um beijo para tomar um pequeno almoço de carnes frias e ovos fritos. A digestão vai demorar...mas tem de ser feita.
A
I lock the door, and lock my head and dream of butterflies instead.
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