quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Quartos de hotel


Gosto de quartos de hotel. De transformar um sítio completamente impessoal em algo meu. Colocar o gel de banho na banheira, os cremes na bancada, o perfume na mesinha de cabeceira, o livro na almofada, desfazer a mala e pendurar a roupa nos cabides. Acho piada que todos tenham, invariavelmente, um exemplar da Bíblia, se bem que prefiro a versão de uma cadeia espanhola, não me lembro o nome, que deixa na mesa-de-cabeceira dos hóspedes um pequeno livro de contos com o sujestivo nome 'Noche de relatos'. Há quartos que se gostam mais, outros que nos deixam praticamente indiferentes. Não é o caso deste 1073. Quando entrei, e depois de abandonar o portátil e a mala a um canto, abri os cortinados, abri a janela e deixei-me invadir pelo cheiro de Porto Alegre. Já o tinha notado à saída do aeroporto misturado com o CO2 dos tubos de escape, à entrada do hotel, misturado com o cheiro dos grelhados do restaurante em frente, já tinha sentido o aroma característico das noites quentes, aqui temperado por uma ligeira humidade que se cola a pele, que age no meu cérebro como um potente afrodisíaco. E há uma coisa que não me sai da cabeça. Uma pessoa com quem nunca partilhei as noites quentes dos trópicos. Mas é o cheiro que, sem que perceba porque, me traz o gosto pelo seu toque, pelos risos e pelas confidências. Que me traz as memórias do meu tapete vermelho.

2 comentários:

mir disse...

Também adoro quartos de hotel, mas deprimem-me. As camas tornam-se tão grandes e frias quando não há o alguém com quem as partilhar...

Anónimo disse...

los relatos los encuentras en novohotel ;)