Abril, sempre?
Comprei tremoços e cervejas e instalei o estaminhé na varanda. Convidei o Zeca Afonso a vir comemorar a liberdade comigo. E cá estamos os dois. Sem cerimónia, descalcei-me. "Faz como se estivesses em tua casa", respondeu-me ele em tom de meia ironia. Coloquei os pés ao ar e pedi-lhe que cantasse, canções da minha idade. "E se pusesses antes um disco...". Expliquei-lhe que não, que não queria qualquer cópia quando tinha o original. "É que já não sei ao que venho cantar", confessou com os olhos parados. Sobre a liberdade, os direitos, a terra, o povo..., insisti.
"Não. Já não há causas comuns que alimentem as minhas pautas". Recusou. Levantei-me, pus o CD a tocar e o povo começou a sair à rua. O Zeca semicerrou os olhos em direcção ao horizonte. Levantou-se e saiu sem se despedir.
3 comentários:
Tremoços?! Então não eram caracóis? Não admira que ele se tenha ido embora... ;)
Essa de vivermos com o que se arranja é que é demasiado burguesa. :)
Lindo!!!
Parabéns.
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