domingo, abril 09, 2006

Tenho a minha mãe na reforma

Porque parece que anda toda a gente a fazer anos, a minha mãe, hoje, também os faz.

Escrevo sobre ele porque merece.

A minha mãe tem três filhos, e apesar de não sermos todos iguais - confesso que sou a melhor, a mais atenciosa, a mais carinhosa, a que telefona todos os dias - dizia eu que, apesar de não sermos todos iguais, trata-nos a todos de igual forma.

Recordo que foi ela quem nos ensinou a fazer contas de dividir. Tinha experiência, não só pelo trabalho que desempenhava - e ainda desempenha - mas também, penso eu, porque dividir era palavra de ordem lá em casa, nos anos 70. Nós os 3 insistíamos em não dar com as contas e ela, com a quarta classe tirada, insistia para que fossemos mais longe, sem para isso a nada nos obrigar. E chegámos a partilhar um carro, sem grandes dramas. Tínhamos aprendido a dividir...

Cresceram um engenheiro, um arquitecto e a minha mão ficou feliz. Uma jornalista, e ficou assim-assim. Ela só nos pediu uma coisa 'Não sejam advogados'. Temia ela que um dia, por dinheiro, deixássemos de defender os valores que queria que tivessemos para toda a vida. Talvez se esquecesse que nas outras profissões também se perdem valores. E muitos.

A minha mão é o motor de uma família numerosa, que começa na avó de quase 91 anos - falarei dela um destes dias - e termina numa criança que ainda vem a caminho e que tem meses na barriga da mãe dela. E a minha mãe sabe sempre de todos. E o que fazer a todos. O fulano está com gripe? Telefona e manda tomar 'não sei o quê' e fazer 'não sei que tratamento'. 'Médico, meu filho, vai ao médico', insiste. O cicrano tem um problema de outro foro que não o da saúde. Vai já resolver-se. A filha - única - não tem, como de costume, comida em casa? Pois a alimentação vai até ela. Não tem roupa passada a ferro?. Resolvo-te isso na lavandaria, filha...

A minha mãe é assim, incansável, uma mulher de armas, não se queixaria nem que uma das torres gémeas lhe caísse em cima - há dias sonhei com isso e safámo-nos - e está sempre lá, pronta para desenterrar as forças vivas, aplicá-las nos outros, e deitar-se à espera de mais trabalho para o dia seguinte.

Nem sequer ficará com a sensação de quem cumpre missões, atrás de missões, porque mal terá tempo para pensar nisso.

A minhã mãe nunca lerá isto. Ela não sabe fazer enter, quanto mais o que é um blog.
Mas sabe ser uma grande mãe.
E eu nem sei se um dia quero ser como ela, porque vejo que dá muito trabalho.

Parabéns pelos 65! Não à reforma das mães.

3 comentários:

Anónimo disse...

Então Parabéns á tua Mãe... E parabéns para ti tb. Por teres assim uma Mãe "Guerreira" e convicta. Faz por merecer ser filha dela.
Temos um ponto em comum a minha tb fez 65 á pouco. Gostei do texto... E do resto do Blog.

Um beijo Alado, á tua Mãe... Porque merece...

lr disse...

o post é muito bom e justo. a mãe deveria lê-lo. para ficar mais orgulhosa da filha jornalista, o que até não é assim tão mau... quase)todas as mães orgulham os filhos, e todos os filhos envaidecem as mães.
gostei particularmente do dividir -percebo-te bem, e é um grande ensinamento.

Chatterbox disse...

Achei bonito o erro (?!) dactilográfico. Trocar mãe por mão. As mães são isso mesmo, AS MÃOS! Que difícil seria viver sem elas.
Parabéns à mãe CP.