quinta-feira, abril 06, 2006

Da Depressão II

Carrie diz:
leste o estranho amor? o blog q te mandei ontem
[encriptado] diz:
sim sim
[encriptado] diz:
gosto
[encriptado] diz:
mas n é este o meu tipo de amor literário
[encriptado] diz:
gosto do antonio de cerveira
[encriptado] diz:
no aesperadeumsinaldivino
[encriptado] diz:
esse faz o meu género
[encriptado] diz:
sofre como um cão
Carrie diz:
como tu gostas
[encriptado] diz:
sim
[encriptado] diz:
coisa que não senti no estranhoamor
Carrie diz:
mas porque é que temos que sofrer????
[encriptado] diz:
traz grandeza
Carrie diz:
não digas disparates
[encriptado] diz:
é verdade*

Digam o que disserem sobre o que escrevo, sobre a forma como escrevo, chamem-me deprimida, elogiem os tons cinzentos com que pinto as palavras, mas isto é algo que não consigo compreender.

Duvido do Vinicius quando diz ‘que todo o grande amor / Só é bem grande se for triste’. Agora, pedirem-me que acredite que a vida só vale a pena se for sofrida, que há beleza no sofrimento, isso, tenham santa paciência, é que não! Nenhuma lágrima pode suplantar a musicalidade de uma gargalhada. Se é para chorar que seja de tanto rir. Nenhuma hora de insónias vale mais que uma noite de conversa com os amigos. Se é para ter olheiras que seja por uma noite de copos. Nenhuma dor, mesmo que por um grande amor, conseguirá superar a paz dos abraços sinceros dos meus putos. Se é para doer que seja a cabeça com as turras do G. Nenhum centavo gasto com uma depressão será um dia dinheiro bem gasto. Se é para ir a falência que seja na Fnac. Nenhuma zanga será melhor do que perder horas numa discussão de ideias. Se for para ser do contra que seja por causa do futebol, da política ou de um filme… A vida vale a pena e não é pelas lágrimas, pela dor, pelo sofrimento.

[*Conversa no msn]

12 comentários:

Leão da Lezíria disse...

F&%-se! Até que enfim!

Já só falta uma...

[ t ] disse...

Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter-se sofrido até esse mesmo ponto. Edgar Poe

será?... talvez não. mas o sofrimento dá-nos grandeza sim.

lr disse...

Brilhante! A sério. Gostei! (só dispensava a referência à fnac). Assino, pode ser?

Carrie disse...

Leão, nunca ando [será mais preciso dizer andava?!] triste porque gosto, assim como não o anda a que falta. Nunca escrevi um texto deprimente de forma intencional, calculada. Não enfrento uma folha em branco a pensar como posso fazer chorar as pedras da calçada, ou [seguindo a tua teoria] angariar mais comentários. Mais, fico furiosa por estes dias a minha produção bloguistica andar pelas ruas da amargura. Mas prefiro não escrever a ter más razões para o fazer.

Thê, O Poe terá razão até certo ponto. Gostava de perceber essa do sofrimento nos dar grandeza. A sério que gostava.

LR, obrigada… muito obrigada mesmo.

Anónimo disse...

eu tenho uma teoria um bocado para o parva... mas é assim:

os poemas, textos, histórias, escritas durante um periodo em que não estamos bem, em que andamos deprimidos, costumam sair melhor porque costuma ser durante esses periodos que estamos mais virados para nós mesmos, mais parados, que pensamos mais profundamente nas coisas, na mesma coisa de várias formas diferentes, porque estamos á procura de soluções e respostas ao nosso problema do momento.

contrariamente, quando estamos felizes, não perdemos tanto tempo a pensar sobre isso. estamos realmente a vivê-lo. Por conseguinte, os textos que fazemos nessa altura são mais soltos, mais curtos e não tão profundos. São boas alturas para se escrever textos humoristicos ou poemas breves e concisos.

pronto. era isto. lol. kisss

Anónimo disse...

a maioria dos cães que conheço não sofrem

Anónimo disse...

O sofrimento dá-nos grandeza, sim.
Aprendemos (na maioria das vezes) a dar o devido valor aos momentos felizes e bonitos que daí sucedem.
O sofrimento dá-nos grandeza quando já faz parte do passado, quando já atingimos uma maturidade sobre a matéria que nos fez sofrer.
Quanto á depressão...NÃO!!!!
É um estado psicologico que (falo de esperiência própria) não nos traz nada de bom. Quando me recordo da época em que o meu estado de alma estava depressivo sofro, fico desiludida comigo mesma porque sei que sou suficientemente inteligente e culta para ter feito o que fiz.
Nota - perdão pelo desabafo....

Dia disse...

Os que sofrem como cães fiéis sabem depois, mais tarde, dar valor a todas essas coisas pequeninas de que falas no post. Ninguém se diverte mais do que eles. Sei do que falo. Apesar das lágrimas, apesar das insónias, apesar dos sufocos vários, gozo a vida como ninguém.
E continuo a dizer (e esta paixão literária já tem mais de duas semanas, é coisa séria): o António escreve com uma grandeza que só lhe podia ser emprestada pela dor. E duvido que seja uma pessoa neurótica.

AMM disse...

um dia, vivia eu num outro país, um sudanês chamado akim, disse-me que gostava de me mostrar a mais grandiosa visão que um ser humano podia ter. sorri. na ignorância dos vinte e tal, duvidava que um sudanês a viver na escócia, pudesse ter algo assim para me revelar. aceitei o desafio e fui. disse-me que se tinha que ir a pé. segui-o em silêncio. 3 horas monte acima. entre rochas e cardos, sem rosas, sem cores como só a escócia é. e fui. subi com ele.

cheguei lá cima. depois de ter desistido centenas de vezes...em pensamentos, palavras e omissões, que não em actos.

desde esse dia nunca mais duvidei que há sacrifícios e sofrimentos que se justificam, que há montes que têm que ser subidos para de lá vermos o nevoeiro a comer o lago a comer o céu a comer o verde-amarelo das montanhas. visões que só têm aquele significado porque passámos pelo caminho que lhe dá acesso.

há visões a que só chegamos porque passámos pelas penas em que elas voam.

nunca mais recusei um convite para ver as mais grandiosas visões que um ser humano pode ter.

obrigado dia....obrigado carrie

Carrie disse...

Dia, respondo-te pegando no comment do António a quem pergunto se "o nevoeiro a comer o lago a comer o céu a comer o verde-amarelo das montanhas" teria outras cores ou uma dimensão menor se lá tivesse chegado de carro ou helicóptero?

É certo que as dificuldades nos ajudam a apreciar a vida de outra forma, mas o sofrimento é inútil. Cada acontecimento, cada sentimento, tem a importância que lhe queremos dar em determinada altura da nossa vida. Quem nunca andou a bater com a cabeça nas paredes, a chorar pelos cantos, a maldizer o mundo por motivos que mais tarde lhe parecem supérfluos? Eu já.

AMM disse...

carrie diz-me uma coisa: já tiveste mesmo sede? daquelas que nos dão cabo do ADN mitocondrial de tão secas que as células ficam? sim?! então lembras-te desse copo de água que bebeste a seguir....não foi a melhor água que bebeste? não te soube a veuve clicquot? era só água...todavia era da fonte mais fresca, era a água mais pura que bebeste. era só água. soube-te a mito não pelo que era mas pelo que o antecedeu. o sofrimento faz parte do prazer da água.

Dia disse...

Touché!
(não é à toa que eu ando apaixonada pela escrita deste homem)
E lanço aqui mais uma farpa, desta vez Bíblica, e quando eu estou a ler a Bíblia, querida amiga, é porque a coisa está negra - Jó 42:10

Acabo de fazer o download integral do livro sagrado - a fé, como o amor,apanha-se no escuro da net (e isto vai dar post no meu quintal)