sexta-feira, agosto 25, 2006

Falta de apetite

Tenho os jornais ao lado e já os folheei. Hoje as notícias são de futebol. Melhor dizendo, são notícias sobre os bastidores do futebol. Pouco me interessam, mas chamam audiências e têm o País nas mãos. Pelo menos houve um sorteio para a Liga dos Campeões e sempre é um assunto de bola, este, em vez de termos de ouvir o Presidente do Benfica em todos os noticiários, sem que ninguém perceba o que ele diz e quer dizer; vindo depois um irritado Valentim Loureiro que eu, pessoalmente, detesto e não confio, com desafios e protestos mais não sei o quê, para pôr tudo a tremer de medo, ai Jesus que não vai haver jogos da Liga.

As primeiras páginas também falam do Voo 93, o primeiro filme feito após e sobre o 11 de Setembro. Eu quero ir vê-lo mas cheira-me que também há ali muita choradeira e muitas frases feitas, a julgar por um trailer onde uma das hospedeiras, antes do voo arrancar, diz ter saudades dos filhos e da família. Eu estou aqui ao teclado e também tenho saudades da minha família, não ando é por aí anunciar. Também não sou hospedeira... mesmo assim vejo pouco a minha família.

E Plutão, que deixa de ser planeta? Até no sistema solar há despromoções. Faz sentido, é um sistema.

Mas isto tudo porque não me apetece trabalhar. Já não tenho vontade de fazer mais nada hoje mas também parece mal estar a ir-me embora tão cedo. Talvez porque sempre me habituei a sair muito mais tarde. Mas acho que hoje vou fazer gazeta. Mais, porque este post escrito por aqui já é uma espécie de gazeta. E não tenho nada para dizer, é só mesmo para passar o tempo e desabafar, que ultimamente não tenho paciência para nada e para ninguém e entretanto iniciei uma dieta. Não é uma dieta a sério mas evito comer gorduras e doces e carnes vermelhas e coisas dessas. Até já enjoeei o cheesecake e a meia-de-leite vai pelo mesmo caminho. Agora como gelatinas à noite e bebo iogurtes líquidos de manhã.

Vejo mais uma vez o Jornal e percebo que muitas mulheres de Elvas prefererem ter bebés em Badajoz. Eu faria o mesmo, se vivesse em Elvas, e ainda passava pelo El Corte Inglès para comprar umas roupinhas para a criança. Mas também não sei se e quando serei mãe. Aos 33 anos é uma preocupação que começa a assolar-me. Rasteirinha, mas todos os dias me faz pensar. Lá iremos. Aguente-se até aos 40 que dizem que ainda há tempo.

A redacção estás quase parada. E vazia. É o típico mês de Agosto. Poucas notícias e as que há já estão feitas. Não há stress, nem gritos, nem televisões com o som no máximo, nem pessoas a correr de um lado para o outro. E aqui não se fuma.

A mim apetece-me tudo menos estar aqui. Noutros tempos, colegas meus penduravam o casaco na cadeira e partiam. Nunca ninguém sabia que, de facto, já se tinham ido embora, pois se ali estava ainda uma peça de roupa... mas eles iam em mangas de camisa e deixavam o casaco para o dia seguinte. Não trabalhavam muitas horas.

Eu estou sem casaco. Aliás, tenho dois, no carro. Mas não deixo aqui nenhum porque ainda sou roubada. E antes roubar o tempo ao meu trabalho, ainda que uns míseros minutos para escrever esta prosa que a ninguém vai dizer nada.

4 comentários:

Goiaoia disse...

Num sei quantos clubes italianos, o GilVicente ou o Belenense e agora Plutão, tudo a descer de divisão.

so manel disse...

E eu passei de divisão...do quarto para o escritório...

Anne Marie disse...

Olá!
Adorei este texto! Não consigo explicar bem porquê... talvez porque hoje durante o meu dia senti-me também assim um pouco... sem paciência para trabalhar, num departamento praticamente vazio, sem pressas, serenissimo e chato!
Ah... e vi o Voo 93! É muito homenagem heróica, documentário tipo papel de parede com flores em tons pastel. É um telefilme de domingo à tarde...mas como tb ando vulnerável e a pensar na minha vida e no mundo, deixei umas lagriminhas rebeldes. Beijos e continuação de boa escrita!

Miguel Marujo disse...

«Noutros tempos, colegas meus penduravam o casaco na cadeira e partiam. [...] Não trabalhavam muitas horas.» Noutros tempos? Não, ainda hoje conheço quem o faça. E o texto é delicioso, sem falar de delícias.