Regresso ao trabalho
Havia muitos dias que aquele despertador não tocava. Naquela manhã fez-se ouvir bem alto e teve de ser desligado três vezes. Outras tantas insistiu em tocar. A manhã ia a meio e não havia motivos para não abrir os olhos, para não sair da cama, para não rumar à banheira num duche quente e lento, cheiroso e tão despertante como um novo toque do despertador.
Sem pequeno-almoço, roupa nova em cima da velha ganga saiu. Levava tudo, até a má-disposição de uma segunda-feira pós-férias. Os óculos, o telefone, a chave, as traquitanas na mala.... Era uma mulher. E tudo se perdia lá dentro. Um clássico.
O galão e o pão de Deus adoçaram-lhe o fim da manhã. E despertaram-na para o dia que aí vinha. Sem vontade, revirou as páginas do jornal e folheou-o de trás para a frente, como se habituara a fazer. Começou por ler o Calvin & Hobbes.
Abriu o computador a medo, apagou as centenas de mensagens, as de vírus e as outras, e arrumou o espaço de trabalho. Tinha de começar do zero, num dia sem quase ninguém, com poucos colegas, com trabalho moderado, com ideias feitas. E uma reunião importante às 4 da tarde.
Aguentou tudo como se nada fosse e pensou que folgaria, em breve. Gostava do trabalho que fazia, e do sítio onde estava, mas não gostava de primeiros dias. Nem dos da semana, nem dos primeiros dias após umas maravilhosas férias de Verão.
Decidiu sair mais cedo. Enrolou uns papéis e fechou o computador. O alinhamento do jornal estava alinhavado, o dia seguinte estava previsto, a semana estava preparada. Pensou que uma noite de sono lhe traria forças outra vez.
Saiu com a mala desarrumada e fechou a porta sem olhar para trás. No dia seguinte regressou com um sorriso.
1 comentário:
Foi para o trabalho com a mala desarrumada ... e voltou para casa com ela igualmente desarrumada?! Isso sim, é um clássico! :) Porque será que também me identifico com esta descrição?! ... Mulheres, do piorio!!! :)
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