quinta-feira, agosto 17, 2006

Já vai sendo tempo de escrever qualquer coisinha

Talvez explicar porque me sinto como um elefante numa loja de porcelanas. Talvez falar das coisas que me tiram do sério. Das montras cobertas de preto. Dos tons de Inverno que mancham as ruas do Chiado. Falar do sem-abrigo que ontem se sentava numa esquina de um bairro semi-suburbano de Lisboa. Fiquei a pensar naquele homem com barba de três dias. Roupa suja. A pele tingida pela falta de água. O olhar perdido num ponto do outro lado da rua. Foi apenas um relance enquanto tu aceleravas a caminho de casa. Mas nesse microssegundo quis inventar-lhe outra vida. Uma história mais feliz. Uma em que se senta, a olhar para o mesmo ponto indefinido, mas por vontade, não por falta de opção. Depois lembrei-me que não tenho imaginação para tanto. Não sei criar histórias. Sou uma contadora de factos. A realidade pura e dura. E então quis sair do carro. Ir ter com aquele homem. Pedir-lhe que me contasse como chegou ali. Fazer da matéria com que se fazem os pesadelos, uma história com palavras feias, das que ferem a vista. Palavras que castigam os ouvidos mesmo quando proferidas num sussurro. A vida tal como ela é. Sem um patrocínio colorido. Pintada com os tons mais negros. Uma vida tão diferente da minha, em que mesmo os cinzentos são fruto da minha imaginação. Queixamo-nos [me] de tanto. Por tudo. Por nada. Sem perceber que cada minuto, cada palavra, gasta num queixume, é tempo e memória desperdiçada.

[E não era nada disto que queria escrever. Esta cidade precisa de cores. De sorrisos e gargalhadas. Anda melancólica. Tristonha. E até eu, pseudo-deprimida de nascença, começo a ficar cansada. Faz cá falta a ironia da Miranda [a Samantha não lhe fica atrás, mas anda distraída, a miúda, a precisar de uns abanões] e a candura da Charlotte. A primeira até tem desculpa. Não encontra o PC no meio das paredes deitadas abaixo, mas a segunda... bem, já nem sei que lhe diga...]

10 comentários:

. disse...

Pois eu, apesar das palavras q dizes fazerem falta p colorir a tua cidade, já tinha saudades era de te ler a ti, melancólica ou não :)

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Isa disse...

pois eu gostei mt do teu post à parte o àparte... como e q nc te encontrei no chiado... bjs

Leão da Lezíria disse...

Acho que deviam contratar um free-lancer para dar um bocadinho de cor à cidade.

PedroNuno disse...

Leao, candidatas-te a Mr Big, e'isso?

Leão da Lezíria disse...

pedronuno, achas que me candidataria ao que quer que fosse num blog sem sexo? Nem a brincar...

(Big? Eu?...)

Carrie disse...

Leão, manda vir... sabes que nos publicamos.

Pedro, Ele sabe que o lugar está mais do que ocupado e bem ocupado!

Carrie disse...

Rosebud, eu tenho escrito, a menina é que tem andado de férias ;)

Isa e I.I., obrigada :)

PedroNuno disse...

Para posts Carrie, para posts...

PedroNuno disse...

Por outro lado, e relendo agora... nao acho nada triste. Somos memso felizes por poder ter um cinzento que e'sempre colorido. Podemos vir a ter algum azar. Mas por enquanto... Uhauuu, amarelo na areia, azul no mar, temos cor de sobra!!!

Carrie disse...

Pedro, a diferença é que podemos escolher as tonalidades dos cinzentos. Aquele homem duvido que possa.